27 de dez. de 2008

Era Música

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E então soprou um vento de ternura intensa.
E as nuvens se dispersaram,
e eu vi que meu coração emergia
como um alto cume de montanha,
dourado de sol, musicado de pássaros e águas.
Olhava teus olhos, tuas mãos, teus cabelos, teu corpo...


Teu corpo era como um caminho sinuoso
por onde saí desesperado a procurar-te.
E, de repente, tomei-te nos braços,
afaguei-te a cintura, recolhi-te ao meu peito.
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Teu coração inquieto
pulsava mais que o córrego das montanhas,
batia asas de pássaro encandeado.
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E de repente saímos livres e felizes,
como simples animais de Deus
com a direção dos ventos.
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Faminto, colhi-te como um fruto!
Sedento, bebi-te como a água!
Marquei meus dentes em tua carne
e escorreste pela minha boca,
pelo meu pescoço, pelo meu peito.
Meus braços foram tuas formas.
Minhas mãos te conheceram.
Desmanchei-te os cabelos, e me perdi.
Nossas bocas se uniram, e se esqueceram.
Tatearam meus lábios escalando cumes,
devassando vales.
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E fiquei em ti, vivo e silencioso,
como o sangue nas veias,
como a seiva na raiz.
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E desci sobre ti e me entranhei,
como a chuva descendo e molhando.

E quando falamos, era música em tua vida!
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J.G de Araujo Jorge